terça-feira, 13 de maio de 2008

A CRISE POLÍTICA DO LÍBANO

A crise libanesa é política e não sectária. Ela está relacionada a divisão de poder que hoje se encontra nas mãos de poucos grupos políticos, alguns deles, sem nenhuma representatividade junto ao povo libanês.

Há quase dois anos, os grupos de oposição tentam forçar a renúncia do primeiro-ministro ilegítimo do Líbano, Fouad Siniora, como forma de abrir caminho para a composição de um novo governo de união nacional onde todas as forças políticas estejam representadas.

Siniora ocupa o cargo de primeiro-ministro de forma ilegítima desde novembro de 2006 quando todos os ministros representantes da comunidade dos muçulmanos xiitas deixaram o governo em protesto pelo modo como o chefe do gabinete governava o país.

Porém, ao invés de renunciar, e pressionado pelos seus patrocinadores norte-americanos, sauditas e israelenses, Siniora permaneceu no governo e até hoje se recusa a deixar a cadeira em uma atitude que lembra as demais ditaduras árabes apoiadas pelas "democracias" ocidentais.

O ridículo nessa história é que o presidente dos Estados Unidos, o genocida e assassino George W. Bush, diz que Siniora representa a democracia no Líbano. Como? Na democracia se supõe que quem governa é o povo. Não é o que acontece com a administração de Siniora onde uma grande parte da população não tem representantes.

As tentantivas de mostrar que a crise libanesa é sectária revela o desespero e o grau do fracasso que foi acometido o projeto dos Estados Unidos, da Arábia Saudita e de Israel de acabar com a resistência e dominar o Líbano.

Dizer que o "governo sunita" está sendo atacado por parte da "oposição xiita" é criminoso e uma distorsão sem fim.

Primeiro que não existe "governo sunita" no Líbano e nem pode ter porque a constituição do país não permite. O máximo permitido é que o primeiro-ministro escolhido seja desta comunidade (herança da divisão de poder que a França laica deixou de presente para os libaneses). Mas, nunca o governo pode ser todo sunita, xiita, maronita, druso ou ortodoxo. O gabinete ministerial precisa representar todas as comunidades, o que não acontece atualmente.

Segundo, a oposição não é composta só dos muçulmanos xiitas do Hezbollah e do Amal. Há também muçulmanos sunitas (Salim Hoss, Omar Karame, Fatah Iaken, Murabitun), cristãos maronitas (Michel Aoun, líder do Movimento Patriótico Livre, e Suleiman Frangieh) e drusos (Talal Arslan e Weam Wahab), além de alguns partidos da minoria armênia.

Outra menitra "safadinha" propagada pelo terror norte-americano-saudita-judaico por meio dos veículos de comunicação que controlam é quando dizem que "militantes estrangeiros xiitas ocuparam a Beirute sunita". Beirute não pertence aos sunitas. Beirute é uma capital cosmopolita, multicultural, multi-étnica, abrigo das mais diversas comunidades religiosas que compõe o Líbano.

Todos os bairros da capital libanesa possuem uma composição religiosa mista, incluindo, a área de Tariq Jedid, base da Corrente Mustaqbal, liderada pelo títere saudita, Saad Hariri.

Insistir no discurso sectário é uma forma de desviar a atenção das verdadeiras causas que resultaram na crise que assola hoje o Líbano. É um modo também de tentar minimizar a humilhação que os grupos de oposição impuseram aos governistas nos últimos confrontos. Uma forma de recuperar o prestígio perdido.

Só vai haver guerra sectária se Saad Hariri quiser. Pelo discurso que ele fez nesta terça-feira (13) e pelas declarações que seus patrocinadores sauditas, israelenses e norte-americanos deram sobre a crise libanesa, parece que a decisão de enveredar no caminho obscuro do sectarismo já foi adotada.

Resta saber agora se Saad Hariri e o grupo que ele representa vão ter condições de prosseguir nesta conspiração por muito tempo? Se depender dos últimos acontecimentos militares em Beirute, podemos dizer que não há muito o que se preocupar, pois a vitória da oposição é certa.

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