terça-feira, 26 de abril de 2011

REVISTA VEJA DESMASCARADA


Terrorismo na tríplice fronteira. A quem interessa esta ilusão?

Nilton Bobato *
O mês de abril de 2011 ficará marcado como o da retomada da tentativa de construção pelo gendarme do império no Brasil, a Revista Veja, de que a tríplice fronteira, composta por Foz do Iguaçu, Ciudad del Este e Puerto Iguazu, é foco de organização de terríveis terroristas islâmicos, agora acrescida da informação de que um maldoso professor iraniano recruta jovens terroristas no Brasil.

Isso parece história contada por filmes de espionagem para sessão da tarde, mas não é nada disso. Está a serviço da construção de uma imagem para justificar ações. Não é a primeira vez, mas talvez seja o princípio de uma ação mais organizada do que as anteriores, que visavam somente construir na opinião pública internacional a justificativa para guerras no Iraque, no Afeganistão, etc. Agora não é somente construir a imagem de árabes maldosos, perigosos para a democracia, para justificar os ataques na Líbia ou preparar uma campanha contra o Irã.

Talvez estejam olhando para o próprio Brasil, para nosso crescimento, para o amadurecimento de nossa democracia. Mas antes, vamos falar da estúpida história contada pela Veja.

Na edição de 06 de abril, a revista ressuscita histórias antigas e devidamente esclarecidas para apontar supostos suspeitos de coordenarem ações de financiamento e organização de grupos terroristas islâmicos na tríplice fronteira. Citando o caso do senhor Sael Atari, um empresário que vive pacificamente há 23 anos da fronteira, liderança palestina, a revista o classifica como um perigoso falsificador do passaportes e diz que não o localizou, mas usou o mais pérfido método para conseguir uma foto do senhor Atari (enviou um jovem para dizer que fazia um trabalho acadêmico sobre os palestinos e tirou uma foto de um senhor Atari sorridente em frente a mesquita sunita).

Homenageamos o senhor Atari na Câmara de Vereadores local, como símbolo da estupidez jornalística daquele texto. O perigoso terrorista islâmico sentou-se ao lado de dois vereadores cristãos (o presidente e o secretário) na Casa de Leis de Foz do Iguaçu e recebeu a homenagem proposta por um vereador comunista.

Na semana seguinte, a mesma Veja traz em destaque a matéria sobre o professor iraniano que recrutaria jovens terroristas no Brasil e transforma uma viagem de estudantes do islamismo ao Irã num crime contra a humanidade. Versões ingênuas, fantasiosas de jornalistas alucinados por um furo improvável? Claro que não, integra uma campanha muito bem articulada internacionalmente e que terá outros capítulos num futuro breve.

Campanha financiada por recursos norte-americanos, conforme texto de Peter Blair e Khatarina Garcia, veiculado em 17 de fevereiro deste ano, que informa que o Congresso dos EUA aprovou aumento de valores com gastos para publicidade contra os líderes que ameacem o império. Parte destes recursos, US$ 120 milhões, seriam direcionados à mídia brasileira.

E segundo cartas vazadas pelo siteWikiLeaks, este reforço de imprensa no Brasil está ligado diretamente a uma ação para que o país se engaje em campanhas visando a difamação de religiões, como já ocorre na França e que tem como principal alvo os seguidores do islamismo.

Classificá-los como terroristas, sanguinários, é uma boa forma de forçar campanhas contra a convivência pacífica que temos no país.

Protógenes

O deputado federal Protógenes Queiróz (PCdoB-SP), esteve na tríplice fronteira prestando solidariedade ao povo árabe e aos muçulmanos que vivem por aqui (a segunda maior colônia do país), mas mais do que solidariedade, como profundo conhecedor da vida na fronteira (foi responsável por investigações de lavagem de dinheiro na região no início dos anos 2000), declarou que não encontrou nenhum árabe ou brasileiro de descendência árabe envolvido com financiamentos de ações terroristas por estas bandas.

A passagem do deputado pela tríplice fronteira provocou uma grande mobilização da comunidade local e reuniu entre sunitas e xiitas, cerca de 800 pessoas num domingo à noite para protestar contra as ilações desta imprensa. A comunidade vai reagir, quebrou o silêncio e se organiza para não aceitar novas campanhas difamatórias sem resposta.

* Vereador do PCdoB em Foz do Iguaçu (PR), membro do Conselho Nacional de Política Cultural, professor e escritor.

* Artigo extraído do Portal Vermelho www.vermelhor.org.br

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