Desde o ínicio das agressões israelitas contra a Faixa de Gaza, há 21 dias, o blog Leitura Franca tem procurado postar artigos, opiniões e análises sobre a bárbarie praticada pelos criminosos judeus sionistas que resultou na destruição de propriedades e ceifou a vida de centenas de civis palestinos, incluindo, crianças, mulheres e idosos inocentes.
Uma entrevista que não pode deixar de ser lida é a que foi realizada pela jornalista Marcela Rocha e publicada, no último dia 12, no site Terra Magazine com o professor e cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, ex-relator da Organização das Nações Unidas em Mianmar e Burundi na África, e consultor independente do secretário geral da ONU.
Pinheiro falou sem rodeios o que muitos jornalistas, intelectuais, professores e políticos não tiveram coragem de dizer sobre a atual crise na Faixa de Gaza e o conflito árabe-israelense, em geral, que se arrasta por mais de 60 anos.
O diplomata afirmou que é "simplista" a alegação de que Israel ataca por legítima defesa. Ele destacou que Israel é um potência ocupante que tem obrigações perante as leis internacionais, mas que não cumpre de forma deliberada estas obrigações.
Ele denuncia a postura dos Estados Unidos que "sempre apoiou qualquer política de Israel" e também a conduta da Organização das Nações Unidas, em especial, o seu Conselho de Segurança que tem se mostrado irrelevante para resolver o conflito.
Com a devida autorização do Terra Magazine, o blog publica a entrevista na íntegra abaixo:
Especial para Terra Magazine
Paulo Sérgio Pinheiro foi relator da Organização das Nações Unidas em Mianmar e Burundi na África, e consultor independente do secretário geral da ONU. Em tom cético, Pinheiro acredita que "até o dia 20 de janeiro (data da posse do Obama nos EUA) não vai acontecer nada, talvez o cessar-fogo" na Faixa de Gaza. E enfatiza: "Talvez".
- De certa maneira, Israel se aproveitou oportunamente desse prazo de "pato manco" do Bush - como chamam os presidentes enfraquecidos ao fim do mandato - para fazer essa investida.
Sobre a relação entre Estados Unidos e Israel, Pinheiro acredita ser "muito improvável" que Israel continue esta guerra sem o apoio americano. Prossegue, "não só politicamente, mas o fornecimento de armas é feito pelos EUA. Portanto, ele tem o poder de acabar com essa campanha de Israel".
Em entrevista a Terra Magazine, ele analisa o conflito em Gaza que já dura 17 dias e, num balanço momentâneo, deixou 890 palestinos mortos; do lado israelense, 14 baixas. Mas Pinheiro não vê "possibilidades do conflito se extender". E ironiza: "O próprio governo Bush acharia desmedido".
O professor e cientista político faz questão de retomar a história da organização Hamas. Ressalta que quem financiou e estimulou o crescimento dessa organização "foi Israel, para enfraquecer a autoridade palestina, Arafat", justifica.
Mas afirma que "não adianta nada ficar condenando Israel, é preciso sentar à mesa e negociar". Até porque, para o ex-relator da ONU, há uma "desproporcionalidade enorme" e a razão disto é o governo Bush. "Durante esses oito anos, não se empenhou diretamente numa negociação de paz. Sempre apoiou qualquer política de Israel", conclui.
Questionado sobre a autoridade do Conselho de Segurança, Paulo Sérgio Pinheiro é crítico: - Um dos membros permanentes propõe uma resolução e nada acontece. Isto demonstra a irrelevância do Conselho de Segurança da ONU.
O professor é presidente da Comissão Teotônio Vilela que reúne intelectuais como José Gregori, a Marilena Chauí, Fernando Gabeira, Hélio Bicudo. Nessa terça-feira, 13, o grupo irá divulgar no anexo do Memorial da América Latina um manifesto sobre a situação de Gaza. Pinheiro adiantou o teor do documento na entrevista. Leia na íntegra:
Terra Magazine - Israel afirma atacar por legítima defesa. O senhor reafirma as razões de Israel ou discorda?
Paulo Sérgio Pinheiro - Eu acho que é uma caracterização simplista do conflito dizer que Israel ataca por legítima defesa. Esse conflito existe há 60 anos e desde 1967, quando Israel ocupou territórios da Palestina especialmente Gaza. Israel é uma potência ocupante, portanto tem obrigações internacionais segundo as convenções de Genebra e não as cumpre na medida em que não assegura mínimas condições de sobrevivência da população. Essa maneira simplista de definir esse conflito como uma defesa de Israel é completamente equivocada e reducionista. São dois atores políticos, a guerra não é a solução. Não tem solução militar. Mas mesmo assim continua essa carnificina. Não dá para entender esta guerra como uma briguinha de facção. É muito mais complexo. E uma solução política é o único remédio.
Então, para o senhor, quais as razões de Israel?
Na história recente, faz 18 meses que Israel fechou os acessos pra Gaza. Para tudo, material humanitário, gasolina, comércio em geral. Imagine, 1,5 milhão de pessoas numa área de 360 km², ou seja, 4,5 mil pessoas por quilômetro quadrado encerradas na fronteira fechada com o Egito, com Israel e com o mar. Os pontos de acesso parecem corredores de matadouro. A população passa feito gado. Não sabem quando vão abrir ou fechar. É desesperador. O reconhecimento de Israel é conversa pra boi dormir. Tem uma série de Estados que não o reconhecem e convivem pacificamente com Israel. A Arábia Saudita, por exemplo. Ninguém pensa em tirar o Estado de Israel de lá. Vivem em uma democracia partidária e parlamentarista. 20% de árabes e 50% de reprovação a esse tipo de política exercida em Gaza.
Sobre a origem do conflito iniciado em 27 de dezembro de 2008, tem como dizer quem começou ou quando?
Consideremos a questão dos foguetes lançados pelo Hamas, primeiro é importante lembrar que quem financiou e estimulou o crescimento dessa organização foi Israel para enfraquecer a autoridade palestina. Muito parecido com o Talibã: Os Estados Unidos financiaram os muzadin para expulsar os soviéticos, o que deu origem à organização. Israel financiou Hamas para enfraquecer Arafat, o presidente Sharon praticamente decidiu pelo assassinato do líder palestino, o qual teve uma morte suspeitíssima, isoladíssimo e totalmente fragilizado como interlocutor. Fortaleceram o Hamas. A Europa e os EUA financiaram as eleições nos países palestinos ocupados. O presidente Jimmy Carter e outros observadores internacionais disseram que foram as eleições mais livres nos países árabes nos últimos 30 anos. O Hamas surgiu quase que como uma filial da Fraternidade Muçulmana no Egito, que até hoje é um partido político neste país. Até 27 de dezembro de 2008 (quando Israel lançou este ataque), nunca o Hamas tinha lançado foguete de mais longo alcance e nunca ninguém tinha morrido. Por quê? Porque Israel tem uma densidade média de 300 pessoas por km² e tem meios extraordinários nas escolas, como sirenes e radares de aviso. Protegem a população. Entre 27 de dezembro e hoje (12/01/09) morreram 4 civis e 10 soldados israelenses.
Pode ser configurado como um conflito entre exércitos?
O Hamas não é um exército. A autoridade palestina não tem um exército, não tem aviação, nem marinha. É uma população totalmente desarmada, a não ser por esses foguetes que voam descontrolados, não podem acertar um alvo e por isso constituem uma infração grave também à Convenção de Genebra, porque vão cair nas populações e não nos combatentes. Mas não adianta nada ficar condenando Israel, é preciso sentar à mesa e negociar. Mas, sem os EUA, não tem como. A minha bola de cristal prevê que até o dia 20 de janeiro (data da posse do Obama nos EUA) não vai acontecer nada, talvez o cessar-fogo. Talvez.
A ausência de um exército palestino é a razão da morte tantos civís, em especial crianças?
Ao todo foram 890 mortos dos quais mais de 200 são crianças. Porque 45% da população de Gaza têm menos de 14 anos. Há uma desproporcionalidade enorme e a razão disto é o governo Bush que, durante esses oito anos, não se empenhou diretamente numa negociação de paz. Sempre apoiou qualquer política de Israel. O polonês ex-assessor de Carter, Zbigniew Brzezinski, disse em uma entrevista que não adianta condenar Hamas, porque o problema é que só os EUA têm condição de parar essa barbárie. De certa maneira, Israel se aproveitou oportunamente desse prazo de pato manco do Bush - como chamam os presidentes enfraquecidos ao fim do mandato - para fazer essa investida. E, a meu ver, esse conflito não será resolvido antes do dia 20 de janeiro.
Como o senhor avalia a atuação da ONU?
Quem mantém os palestinos vivos na Cisjordânia ocupada e em Gaza é a Agência de Socorro das Nações Unidas para os territórios palestinos ocupados. Há um contingente de 30 mil pessoas trabalhando nisso, ou seja, pagas pela Europa e EUA. Uma contradição brutal. O braço humanitário da ONU está lá, com sucesso. As crianças vivem por causa da UNICEF. Agora, o braço político da ONU, este sim é problemático. Porque o Conselho de Segurança, que é o único órgão, além do Tribunal Penal Internacional, que tem resoluções obrigatórias, vive sob o veto das cinco potências entre elas o EUA, que pode vetar tudo. Então, eu acho que o Sarkozy merece todo o mérito por sua hiperatividade que, junto ao chanceler Kushner, grande militante humanitário, saíram à frente se mandaram para Israel e fizeram o que deveria ser feito. O Egito, vizinhos de Gaza e com uma autoridade importante, tiveram um papel diplomático importante. Creio que a solução franco-egípcia é cessar-fogo imediato, suspensão dos bombardeios e dos foguetes do Hamas, abertura dos portões de acesso e negociações.
A criação do Estado Palestino resolveria o conflito?
O ministro Celso Laffer falou que, para uma segunda etapa do conflito, deveria se negociar a criação do Estado Palestino, dividir Jerusalém para as duas capitais e dar um tratamento justo para os 800 mil palestinos expulsos da Palestina depois da criação de Israel. Ou seja, eles devem voltar e serem reparados economicamente. Concordo plenamente com ele. Incluindo, é claro, o reconhecimento das Resoluções de 1967, (que estabelecem fronteiras territoriais) as quais o Hamas pediu a Israel que obedecesse em troca de 10 anos de paz. O que não aconteceu.
Com a ofensiva ao Líbano e os estilhaços que atingiram o Egito, o senhor acha possível um crescimento do conflito?
É evidente que Israel não venceu no Líbano. Mas na minha avaliação o Hezbolah está com uma atuação responsável. Cumpre com as Resoluções de 1967, respeita Israel, participa do governo do Líbano. Se Hezbolah participa do governo libanês, porque Israel não pode aceitar uma autoridade palestina com um representante do Hamas? Enfim, não vi confirmações de outras bombas que o Hezbolah tenha lançado. Não vejo possibilidades do conflito se estender. O próprio governo Bush acharia desmedido.
Quais saídas, para o conflito, o senhor vislubra?
Há 60 anos que brigam. Não dá pra continuar! Alguém tem que colocar os dois em uma sala e dizer isto. A única potência global que pode fazer isto é os EUA. Mas sem pender pra um dos lados. Israel só vai parar com esses bombardeios quando o presidente Obama disser "parem" e pedir negociações entre os atores políticos envolvidos no conflito. Não há outra solução que não a política, o diálogo. Diplomacia é a palavra mais correta. Explulsar o embaixador de Israel foi um gesto totalmente desequilibrado do presidente Hugo Chávez, do ponto de vista diplomático. É claro que foi uma maneira de cutucar os EUA, mas era desnecessário.
A ofensiva já dura 17 dias. Com todos os pedidos de cessar-fogo, inclusive o da ONU, o senhor acredita que somente o Obama pode dissolver este conflito?
Na verdade eu colocaria o contrário. É muito improvável que Israel continue esta guerra sem o apoio americano. Não só politicamente, mas o fornecimento de armas é feito pelos EUA. Portanto, ele tem o poder de acabar com essa campanha de Israel.
E o Conselho de Segurança da ONU?
Um dos membros permanentes propõe uma resolução e nada acontece. Isto demonstra a irrelevância do Conselho de Segurança da ONU. Não que eu esteja otimista, mas creio que ainda nessa semana teremos um recuo do conflito. Nâo é possível que, com esse número de mortos, ainda queiram manter os ataques.
Uma entrevista que não pode deixar de ser lida é a que foi realizada pela jornalista Marcela Rocha e publicada, no último dia 12, no site Terra Magazine com o professor e cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, ex-relator da Organização das Nações Unidas em Mianmar e Burundi na África, e consultor independente do secretário geral da ONU.
Pinheiro falou sem rodeios o que muitos jornalistas, intelectuais, professores e políticos não tiveram coragem de dizer sobre a atual crise na Faixa de Gaza e o conflito árabe-israelense, em geral, que se arrasta por mais de 60 anos.
O diplomata afirmou que é "simplista" a alegação de que Israel ataca por legítima defesa. Ele destacou que Israel é um potência ocupante que tem obrigações perante as leis internacionais, mas que não cumpre de forma deliberada estas obrigações.
Ele denuncia a postura dos Estados Unidos que "sempre apoiou qualquer política de Israel" e também a conduta da Organização das Nações Unidas, em especial, o seu Conselho de Segurança que tem se mostrado irrelevante para resolver o conflito.
Com a devida autorização do Terra Magazine, o blog publica a entrevista na íntegra abaixo:
Ex-relator: Conselho de Segurança é irrelevante
Marcela RochaEspecial para Terra Magazine
Paulo Sérgio Pinheiro foi relator da Organização das Nações Unidas em Mianmar e Burundi na África, e consultor independente do secretário geral da ONU. Em tom cético, Pinheiro acredita que "até o dia 20 de janeiro (data da posse do Obama nos EUA) não vai acontecer nada, talvez o cessar-fogo" na Faixa de Gaza. E enfatiza: "Talvez".
- De certa maneira, Israel se aproveitou oportunamente desse prazo de "pato manco" do Bush - como chamam os presidentes enfraquecidos ao fim do mandato - para fazer essa investida.
Sobre a relação entre Estados Unidos e Israel, Pinheiro acredita ser "muito improvável" que Israel continue esta guerra sem o apoio americano. Prossegue, "não só politicamente, mas o fornecimento de armas é feito pelos EUA. Portanto, ele tem o poder de acabar com essa campanha de Israel".
Em entrevista a Terra Magazine, ele analisa o conflito em Gaza que já dura 17 dias e, num balanço momentâneo, deixou 890 palestinos mortos; do lado israelense, 14 baixas. Mas Pinheiro não vê "possibilidades do conflito se extender". E ironiza: "O próprio governo Bush acharia desmedido".
O professor e cientista político faz questão de retomar a história da organização Hamas. Ressalta que quem financiou e estimulou o crescimento dessa organização "foi Israel, para enfraquecer a autoridade palestina, Arafat", justifica.
Mas afirma que "não adianta nada ficar condenando Israel, é preciso sentar à mesa e negociar". Até porque, para o ex-relator da ONU, há uma "desproporcionalidade enorme" e a razão disto é o governo Bush. "Durante esses oito anos, não se empenhou diretamente numa negociação de paz. Sempre apoiou qualquer política de Israel", conclui.
Questionado sobre a autoridade do Conselho de Segurança, Paulo Sérgio Pinheiro é crítico: - Um dos membros permanentes propõe uma resolução e nada acontece. Isto demonstra a irrelevância do Conselho de Segurança da ONU.
O professor é presidente da Comissão Teotônio Vilela que reúne intelectuais como José Gregori, a Marilena Chauí, Fernando Gabeira, Hélio Bicudo. Nessa terça-feira, 13, o grupo irá divulgar no anexo do Memorial da América Latina um manifesto sobre a situação de Gaza. Pinheiro adiantou o teor do documento na entrevista. Leia na íntegra:
Terra Magazine - Israel afirma atacar por legítima defesa. O senhor reafirma as razões de Israel ou discorda?
Paulo Sérgio Pinheiro - Eu acho que é uma caracterização simplista do conflito dizer que Israel ataca por legítima defesa. Esse conflito existe há 60 anos e desde 1967, quando Israel ocupou territórios da Palestina especialmente Gaza. Israel é uma potência ocupante, portanto tem obrigações internacionais segundo as convenções de Genebra e não as cumpre na medida em que não assegura mínimas condições de sobrevivência da população. Essa maneira simplista de definir esse conflito como uma defesa de Israel é completamente equivocada e reducionista. São dois atores políticos, a guerra não é a solução. Não tem solução militar. Mas mesmo assim continua essa carnificina. Não dá para entender esta guerra como uma briguinha de facção. É muito mais complexo. E uma solução política é o único remédio.
Então, para o senhor, quais as razões de Israel?
Na história recente, faz 18 meses que Israel fechou os acessos pra Gaza. Para tudo, material humanitário, gasolina, comércio em geral. Imagine, 1,5 milhão de pessoas numa área de 360 km², ou seja, 4,5 mil pessoas por quilômetro quadrado encerradas na fronteira fechada com o Egito, com Israel e com o mar. Os pontos de acesso parecem corredores de matadouro. A população passa feito gado. Não sabem quando vão abrir ou fechar. É desesperador. O reconhecimento de Israel é conversa pra boi dormir. Tem uma série de Estados que não o reconhecem e convivem pacificamente com Israel. A Arábia Saudita, por exemplo. Ninguém pensa em tirar o Estado de Israel de lá. Vivem em uma democracia partidária e parlamentarista. 20% de árabes e 50% de reprovação a esse tipo de política exercida em Gaza.
Sobre a origem do conflito iniciado em 27 de dezembro de 2008, tem como dizer quem começou ou quando?
Consideremos a questão dos foguetes lançados pelo Hamas, primeiro é importante lembrar que quem financiou e estimulou o crescimento dessa organização foi Israel para enfraquecer a autoridade palestina. Muito parecido com o Talibã: Os Estados Unidos financiaram os muzadin para expulsar os soviéticos, o que deu origem à organização. Israel financiou Hamas para enfraquecer Arafat, o presidente Sharon praticamente decidiu pelo assassinato do líder palestino, o qual teve uma morte suspeitíssima, isoladíssimo e totalmente fragilizado como interlocutor. Fortaleceram o Hamas. A Europa e os EUA financiaram as eleições nos países palestinos ocupados. O presidente Jimmy Carter e outros observadores internacionais disseram que foram as eleições mais livres nos países árabes nos últimos 30 anos. O Hamas surgiu quase que como uma filial da Fraternidade Muçulmana no Egito, que até hoje é um partido político neste país. Até 27 de dezembro de 2008 (quando Israel lançou este ataque), nunca o Hamas tinha lançado foguete de mais longo alcance e nunca ninguém tinha morrido. Por quê? Porque Israel tem uma densidade média de 300 pessoas por km² e tem meios extraordinários nas escolas, como sirenes e radares de aviso. Protegem a população. Entre 27 de dezembro e hoje (12/01/09) morreram 4 civis e 10 soldados israelenses.
Pode ser configurado como um conflito entre exércitos?
O Hamas não é um exército. A autoridade palestina não tem um exército, não tem aviação, nem marinha. É uma população totalmente desarmada, a não ser por esses foguetes que voam descontrolados, não podem acertar um alvo e por isso constituem uma infração grave também à Convenção de Genebra, porque vão cair nas populações e não nos combatentes. Mas não adianta nada ficar condenando Israel, é preciso sentar à mesa e negociar. Mas, sem os EUA, não tem como. A minha bola de cristal prevê que até o dia 20 de janeiro (data da posse do Obama nos EUA) não vai acontecer nada, talvez o cessar-fogo. Talvez.
A ausência de um exército palestino é a razão da morte tantos civís, em especial crianças?
Ao todo foram 890 mortos dos quais mais de 200 são crianças. Porque 45% da população de Gaza têm menos de 14 anos. Há uma desproporcionalidade enorme e a razão disto é o governo Bush que, durante esses oito anos, não se empenhou diretamente numa negociação de paz. Sempre apoiou qualquer política de Israel. O polonês ex-assessor de Carter, Zbigniew Brzezinski, disse em uma entrevista que não adianta condenar Hamas, porque o problema é que só os EUA têm condição de parar essa barbárie. De certa maneira, Israel se aproveitou oportunamente desse prazo de pato manco do Bush - como chamam os presidentes enfraquecidos ao fim do mandato - para fazer essa investida. E, a meu ver, esse conflito não será resolvido antes do dia 20 de janeiro.
Como o senhor avalia a atuação da ONU?
Quem mantém os palestinos vivos na Cisjordânia ocupada e em Gaza é a Agência de Socorro das Nações Unidas para os territórios palestinos ocupados. Há um contingente de 30 mil pessoas trabalhando nisso, ou seja, pagas pela Europa e EUA. Uma contradição brutal. O braço humanitário da ONU está lá, com sucesso. As crianças vivem por causa da UNICEF. Agora, o braço político da ONU, este sim é problemático. Porque o Conselho de Segurança, que é o único órgão, além do Tribunal Penal Internacional, que tem resoluções obrigatórias, vive sob o veto das cinco potências entre elas o EUA, que pode vetar tudo. Então, eu acho que o Sarkozy merece todo o mérito por sua hiperatividade que, junto ao chanceler Kushner, grande militante humanitário, saíram à frente se mandaram para Israel e fizeram o que deveria ser feito. O Egito, vizinhos de Gaza e com uma autoridade importante, tiveram um papel diplomático importante. Creio que a solução franco-egípcia é cessar-fogo imediato, suspensão dos bombardeios e dos foguetes do Hamas, abertura dos portões de acesso e negociações.
A criação do Estado Palestino resolveria o conflito?
O ministro Celso Laffer falou que, para uma segunda etapa do conflito, deveria se negociar a criação do Estado Palestino, dividir Jerusalém para as duas capitais e dar um tratamento justo para os 800 mil palestinos expulsos da Palestina depois da criação de Israel. Ou seja, eles devem voltar e serem reparados economicamente. Concordo plenamente com ele. Incluindo, é claro, o reconhecimento das Resoluções de 1967, (que estabelecem fronteiras territoriais) as quais o Hamas pediu a Israel que obedecesse em troca de 10 anos de paz. O que não aconteceu.
Com a ofensiva ao Líbano e os estilhaços que atingiram o Egito, o senhor acha possível um crescimento do conflito?
É evidente que Israel não venceu no Líbano. Mas na minha avaliação o Hezbolah está com uma atuação responsável. Cumpre com as Resoluções de 1967, respeita Israel, participa do governo do Líbano. Se Hezbolah participa do governo libanês, porque Israel não pode aceitar uma autoridade palestina com um representante do Hamas? Enfim, não vi confirmações de outras bombas que o Hezbolah tenha lançado. Não vejo possibilidades do conflito se estender. O próprio governo Bush acharia desmedido.
Quais saídas, para o conflito, o senhor vislubra?
Há 60 anos que brigam. Não dá pra continuar! Alguém tem que colocar os dois em uma sala e dizer isto. A única potência global que pode fazer isto é os EUA. Mas sem pender pra um dos lados. Israel só vai parar com esses bombardeios quando o presidente Obama disser "parem" e pedir negociações entre os atores políticos envolvidos no conflito. Não há outra solução que não a política, o diálogo. Diplomacia é a palavra mais correta. Explulsar o embaixador de Israel foi um gesto totalmente desequilibrado do presidente Hugo Chávez, do ponto de vista diplomático. É claro que foi uma maneira de cutucar os EUA, mas era desnecessário.
A ofensiva já dura 17 dias. Com todos os pedidos de cessar-fogo, inclusive o da ONU, o senhor acredita que somente o Obama pode dissolver este conflito?
Na verdade eu colocaria o contrário. É muito improvável que Israel continue esta guerra sem o apoio americano. Não só politicamente, mas o fornecimento de armas é feito pelos EUA. Portanto, ele tem o poder de acabar com essa campanha de Israel.
E o Conselho de Segurança da ONU?
Um dos membros permanentes propõe uma resolução e nada acontece. Isto demonstra a irrelevância do Conselho de Segurança da ONU. Não que eu esteja otimista, mas creio que ainda nessa semana teremos um recuo do conflito. Nâo é possível que, com esse número de mortos, ainda queiram manter os ataques.
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