quinta-feira, 1 de maio de 2008

SBT MENTE SOBRE A PALESTINA

O programa “SBT Repórter”, que foi ao ar na noite da última quarta-feira (30/04), apresentou uma versão parcial, tendenciosa e falsa da história da Palestina.

Agindo desta maneira, os profissionais que produziram, divulgaram e apresentaram tal programa, bem como a empresa de comunicação que lhes serviu de veículo, atentaram não apenas contra as normas do bom jornalismo, que deve contemplar as várias versões dos fatos.

Prejudicaram a população brasileira, que foi, mais uma vez, aviltada em seu direito à informação isenta. Uma triste página da trajetória do Sistema Brasileiro de Televisão, cujo proprietário, Senor Abravanel – popularmente conhecido por “Sílvio Santos” – , por sua origem, parece ter um interesse particular em falsear a história da Palestina.

O programa “SBT Repórter” apresentou a versão sionista da ocupação da Palestina. A subseqüente proclamação da independência de “Israel” é mostrada como o resultado da ação “heróica”, abnegada, de David Ben-Gurion, Golda Meir e outros próceres do sionismo. Os árabes – e os palestinos em particular – aparecem como os eternos inimigos do “estado judeu”.

Sua participação no programa se reduz à citação de dois personagens, dois palestinos, que escolhem deixar a Palestina ante a independência de “Israel” e o apoio dado à “nova nação” pela comunidade internacional.

Pois bem, esta é uma versão dos fatos. Faltou a versão palestina. O programa “SBT Repórter” não citou, nem uma vez sequer, que o “estado de Israel” se assenta sobre a ação terrorista de grupos sionistas como a Gangue Stern, Palmach, Irgun, Lohamei Herut Israel e a Hagannah. Sim.

Os que apontam hoje, hipócrita e criticamente contra a ação dos “terroristas” palestinos, não mencionam esta página negra da história de “Israel”. Antes de 1948, aldeias palestinas inteiras foram massacradas a golpe de baioneta, granadas e metralhadoras dos terroristas sionistas.

Uma das ações terroristas judaicas mais célebres foi o massacre da aldeia de Deir Yassin, entre os dias 09 e 11 de abril de 1948 - uma das cerca de 120 aldeias árabes destruidas pelo terror judaico. Pela manhã, terroristas sionistas da Hagannah e Irgun invadiram o local e massacraram homens e mulheres, idosos e crianças. O objetivo era espalhar o terror entre a população árabe que vivia na Palestina desde tempos imemoriais, expulsando-a e abrindo espaço vital para a futura ocupação de imigrantes judeus de todo o mundo.

Os nazistas já haviam usado o termo lebensraum para se referir à criação desse "espaço vital" quando se lançaram à invasão e ocupação da Áustria, Polônia, Tchecoslováquia e, mais tarde, da Europa inteira, na II Guerra Mundial.

Outro atentado terrorista judaico célebre foi a explosão do Hotel King David, em Jerusalém, no dia 22 de julho de 1946. O edifício servia de sede para as tropas britânicas na Palestina, sobre a qual a Grã-Bretanha exercia mandato conferido pela Liga das Nações, logo após o fim da II Guerra Mundial. Pois bem, terroristas do Irgun, entre os quais figurava o futuro primeiro-ministro de “Israel”, Mieczyslaw Biegun – mais conhecido por Menachem Begin – plantaram uma bomba no prédio, que veio abaixo, soterrando não apenas os soldados britânicos, mas dezenas de civis que transitavam pelo local.

Estes, porém, são apenas duas das incontáveis ações terroristas judaicas que o programa “SBT Repórter”, cuja emissora é de propriedade do empresário e apresentador israelita Senor Abravanel, não contou ao público brasileiro.

A história da criação do “estado de Israel” é a história da tentativa de destruição de um povo – os palestinos – e sua memória, representada não penas pela terra arrasada em que se tornaram centenas de aldeias palestinas antes, durante e após a Nakba – Tragédia – de 1948, mas pelo desrespeito que o terrorismo sionista demonstra, historicamente, por tudo o que não é judaico na Palestina ocupada.

Bairros árabes, hoje, são ocupados por shopping centers e hotéis de luxo. Casas de palestinos, como a que abrigou a família do célebre intelectual palestino Edward Said, no bairro de Talbiya, servem, hoje, de abrigo a grupos fundamentalistas evangélicos que apóiam Israel incondicionalmente. Abaixo, um breve relato do que significou para importantes templos cristãos a “libertação” da Palestina pelos colonos e terroristas sionistas nos últimos 60 anos:

1. O hospício “Notre Dame de France”, grande parte do qual foi destruído como resultado da ocupação judaica.
2. O Convento das Irmãs Curadoras foi incendiado e quase que completamente destruído.
3. A torre e a igreja do Monastério dos Padres Beneditinos foi danificado como resultado de ter sido ocupado.
4. O Seminário de Sta. Anna foi atingido por duas bombas morteiros: a primeira no dia 17 de maio, 1948, e a segunda dia 19 de maio de 1948, destruindo paredes e ferindo os refugiados ali abrigados.
5. A Igreja de São Constantino e Helena, que é contígua à Igreja do Santo Sepulcro, foi atingida em 178 de maio de 1948 por uma bomba, cujos fragmentos danificaram também o domo do Santo Sepulcro.
6. O Patriarcado Armênio Ortodoxo foi atingido por cerca de cem bombas morteiros lançadas por sionistas desde o Monastério dos Padres Beneditinos no Monte Sion. As bombas danificaram o Convento de São Jacob, o Convento dos Arcanjos e suas duas igrejas, suas duas escolas primárias e seminários, e sua biblioteca. Oito dentre os refugiados foram mortos e 120, feridos.
7. A entrada da igreja de São Marco, pertencente aos Sírios Ortodoxos, foi atingida em 17 de maio de 1948, por um morteiro que matou o monge Peter Saymy, secretário do Bispo, e feriu mais duas pessoas.
8. O Convento de São Jorge, dos Gregos Ortodoxos, que é contíguo à Catedral católica Grega, foi atingido em 18 de maio de 1948 por um morteiro que quebrou as telhas e as janelas da catedral.
9. O Convento de São João, dos Gregos Ortodoxos, contíguo à Basílica do Santo Sepulcro, recebeu no seu telhado um morteiro, em 23 de maio de 1948. Nas proximidades, o Convento de São Abraão e o Convento de Spiridon foram atingidos.
10. O Convento do Arcanjo pertencente ao Patriarcado Copta, situado sobre o grotto da Sagrada Cruz, formando parte da Basílica do Santo Sepulcro, foi atingido por um morteiro que danificou o seu telhado em 23 de maio de 1948.
11. O patriarcado Grego Ortodoxo foi atingido por morteiros em 23 e 24 de maio de 1948, ferindo vários que estavam refugiados no seu interior.
12. O grande convento Franciscano (São Salvador) situado próximo ao Sto. Sepulcro, recebeu morteiros em 19, 23, 24 e 28 de maio, 1948, causando danos ao orfanato, secretariado geral, e atingindo casas nas proximidades, ferindo e matando crianças ali abrigadas.
13. Em 23, 26, 27 e 28 de maio, 1948, o Patriarcado Latino foi atingido por morteiros que danificaram o Palácio Patriarcal, principalmente a Catedral.
14. O Patriarcado Católico Grego foi atingido por bombas morteiros em 16 e 29 de maio, 1948, danificando o edifício e ferindo algumas pessoas.

Devemos citar o risco que correm, também, as mesquitas e locais sagrados dos muçulmanos na terra ocupada da Palestina. Hajam vistas as escavações realizadas por “arqueólogos” israelenses nas imediações da Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã, de onde o Profeta Muhammad (s.a.a.a.s.) ascendeu aos céus. O mundo inteiro deve vigiar diuturnamente o que é feito nas proximidades de Al-Aqsa.

O passado de Israel o condena. Um país que solenemente e de forma recorrente desobedece todas as Resoluções da ONU que exigem retirada incondicional das tropas de ocupação dos territórios árabes e o respeito ao direito de retorno dos 1,5 milhão de palestinos refugiados no mundo inteiro não é tão inocente ao ponto de prescindir da vigilância dos muçulmanos quanto à preservação dos seus lugares sagrados. Apenas a atenção constante e o espírito alerta podem garantir que Al-Aqsa, como centenas de templos cristãos e islâmicos na Palestina ocupada, não será destruída.

Contudo, a sanha destruidora de Israel não se deteve em 1948. Algo que o programa “SBT Repórter” também sonegou à opinião pública brasileira é que o assassinato de civis palestinos inocentes e a destruição de templos islâmicos e cristãos, casas, estabelecimentos comerciais e plantações, muitas vezes de aldeias palestinas inteiras, continua na Palestina ocupada. Alguns destes imóveis estão no caminho do famigerado muro que quer separar a Cisjordânia do restante da Palestina.

Um exemplo é o da aldeia de Daba’a. Em janeiro de 2003, as autoridades que levantam este novo Muro da Vergonha ordenaram que fossem removidos todos os “obstáculos” à sua construção, o que implicou na demolição de 42 casas palestinas, da escola e da mesquita da aldeia – que ficavam no caminho. E Daba’a é apenas um caso.

Em fevereiro também de 2003, três mil palestinos que viviam na vila de Tal Al-Maleh, em Naqab (ou Neguev), no Sul de Israel, não tiveram onde fazer as orações do ‘Id Al-Adha (Festa do Sacrifício), ao final da Peregrinação (Hajj). Motivo: a mesquita da aldeia havia sido destruída pelas autoridades israelenses, sob a desculpa de que havia sido construída “sem licença”.

No dia 16 de março de 2004, as forças de ocupação israelenses dinamitaram o campus da Universidade Al-Aqsa, em Gaza, levando de roldão dezenas de residências nos arredores – não nos esqueçamos que 2004 foi o ano da terrível destruição ocorrida em Rafah, no Sul da Faixa de Gaza, em que dezenas de civis – homens, mulheres, crianças e idosos – foram mortos e centenas casas, estabelecimentos comerciais e religiosos foram destruídos, primeiramente por artilharia e bombardeio aéreo israelense e, depois, por bulldozers.

Em 2005, foi a vez da destruição da aldeia palestina de Dar Al-Hanun, estabelecida em 1925, mas “não reconhecida” pelas autoridades israelenses.

Outro caso: no dia 1º de junho do mesmo ano, o ministro interino da Habitação de Israel, Ruhama Avraham, declarava ao jornal israelense Ha’aretz que “A demolição de casas na região de Silwan, na Jerusalém Oriental pode levar à prisão de alguns moradores, mas o governo não tem a intenção de capitular”.

Vale lembrar, que Silwan (ou Siloé) é uma área de população predominantemente árabe em Jerusalém. A destruição de casas palestinas naquele bairro tem por objetivo “limpar” o terreno para instalar colônias judaicas, uma prática comum, aliás, em muitos vilarejos árabes, destruídos para dar lugar a elegantes bairros onde são abrigados imigrantes vindos da Rússia, Ucrânia, Polônia, Alemanha, Estados Unidos... Tal procedimento é mais um claro desrespeito do Estado de Israel às convenções de guerra internacionais e às resoluções da ONU, que proíbem a colonização de áreas civis sob ocupação militar.

O programa “SBT Repórter” também não fez nenhuma menção ao cerco a que estão submetidos 1,4 milhão de palestinos que vivem na Faixa de Gaza, o maior campo de concentração do mundo. Os árabes que vivem ali, confinados, estão totalmente à mercê da “boa-vontade” das autoridades do “estado democrático de Israel”.

A conseqüência é a restrição imposta à entrada de alimentos, combustível, remédios e outros gêneros essenciais para a sobrevivência da população palestina, o que gera um problema de caráter humanitário poucas vezes visto na história da humanidade.

O programa “SBT Repórter” não contou à população brasileira, ainda, que a colonização judaica na Cisjordânia – uma afronta às normas do Direito Internacional, repetimos – continua, num claro atentado não só aos direitos dos povos – neste caso o palestino – mas às conversações de paz. De um lado, o governo israelense se diz interessado em manter o diálogo com o Sr. Mahmoud Abbas; de outro, estimula aceleradamente a colonização de terras árabes, para criar um fato consumado.

Muito mais poderia ser dito sobre os crimes, o terrorismo, a hipocrisia das autoridades do “estado de Israel”, nestes 60 anos de Nakba, de Tragédia, de vergonha na Palestina. Nós, do Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos, esperamos que estas poucas palavras aqui colocadas sirvam como um humilde contrapeso às meias-verdades contadas pelo apresentador César Filho neste lamentável programa “SBT Repórter”. E que a população brasileira esteja sempre alerta a estas tentativas recorrentes de manipulação da opinião pública.

FONTE: IBEI

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